No fim de um dia que se há de esquecer, sente a alma derrotada. A reflexão vem do espelho do banheiro. Se enxerga como pessoa e reconhece a insatisfação humana. Aquela que só seria superada a partir da impossível simbiose de genética, desejos e sentimentos constituindo o ser perfeito.
Um ser inexistente.

A Ânsia

De repente, numa madrugada já diurna,
a ansiedade é desperta.
Interrompe meu sono e o separa de mim, como poucas vezes acontece.
E vem como consequência de uma junção
de sentimentos,
De faltas, dúvidas e expectativas.
Ansiedade que me consome em angústia
E, ao mesmo tempo, faz nascer uma satisfação
Por simplesmente estar sentindo.

A Velha

A velha é chata e ressentida. Reclama, xinga e desdenha. Se há algo errado, o pequeno prazer de dizê-lo é dela.
Nem sempre foi assim a velha, sabe. Quando a velha ainda não era velha, o mundo era uma grande oportunidade aos seus olhos. De todas as palavras a sua preferida era esperança. Naquele tempo seus olhos brilhavam de vivacidade e vontade de fazer acontecer. E ela acreditava na bondade em tudo e de todos.
Mas então as decepções que a vida lhe deu apagaram o brilho, a esperança ficou gasta. Agora, o que resta à pobre velha é maldizer o mundo que desfez seus planos de um futuro que não aconteceu.

Numa sala silenciosa

Nesse momento eu consigo sentir uma naturalidade em todo esse silêncio. O mesmo silêncio que geralmente me deixa desconfortável, que parece um barulho insuportável e que eu preciso cessar simplesmente falando. Porque apesar da completa falta de assunto, a familiaridade de dividir esse gene lacônico com todos na sala me tranquiliza. Aqui eu nem escuto o barulho do silêncio. Querendo ou não, estou em casa.

Abrindo a geladeira pra pensar...

Às vezes me pego abrindo e fechando a geladeira, sem pôr nem tirar. Abrindo. Olhando, sem ver nada. Fechando. E então paro e penso no que estou fazendo... Sem querer abro de novo. Olho para dentro, mas nem adianta... A resposta que procuro não está ali.